Internacionalização de sites e os desafios de desenvolvimento: case Booking.com

Quais os desafios para um desenvolvedor ou equipe de desenvolvimento na criação de um site? E quando o site é visto no mundo inteiro, por pessoas que falam línguas diferentes, possuem culturas diferentes e hábitos diferentes? Eduardo Shiota, do time de desenvolvimento da Booking.com ajudou a esclarecer questões e levantar pontos fundamentais para quem trabalha com sites que são internacionais. Passando por língua, moeda, cultura e hábitos, ele contou um pouco mais dos desafios monumentais de um desafio como esse na Conferência Web W3C Brasil 2014.

Parte da trilha Desenvolve, a palestra “Internacionalização da Booking: 2.220 maneiras de ver um mesmo web site” começou com Shiota falando dos desafios de implementação na linguagem num projeto desse porte. “Por padrão, toda vez que você cria um html, ele vai ser lido da esquerda para a direita. Só que há muitas línguas em que a leitura é feita da direita para a esquerda, como é o caso do árabe e hebraico. E o que acontece quando você troca o left to right pra right to left? O browser lê tudo ao contrário”, disse. “Um site em árabe inverte tudo. A gente tem que inverter não só a direção dos textos, mas a posição das colunas também”.

Segundo ele, é fundamental pensar em diferentes soluções para implementar seus diferentes elementos. “Quando você faz o site em uma língua só, é uma questão de gosto. Quando você faz em línguas diferentes, você precisa saber do impacto que vai causar em todos os aspectos”. Ele também disse que, nesses casos, é melhor usar o inline-block em vez de float na programação. “A vantagem do inline-block é que ele passa a obedecer o workflow do documento”, ressaltou.

Uma palavra em uma língua pode ser completamente diferente em outra, lembrou Shiota. A pontuação é diferente, plurais são diferentes. Russo e outras línguas possuem uma pluralização diferentes para números com final 1,2,3 e 4 quando comparados com números com finais 5, 6, 7, 8 e 9. Isso representa um grande desafio para quem está implementando a programação. Outra dica de Shiota: “Não se coloca textos em inglês direto no html. Os textos sempre passam pelo time de tradução e pela ferramenta de tradução”, afirmou.

Fontes também podem ser um desafio. “Temos um site em japonês e o dono de um hotel no Japão disse que a helvética em japonês é muito ilegível. Esse é o tipo de insight que apenas quem é nativo da língua consegue ter”, disse, lembrando que na Booking.com, há um time especializado em línguas asiáticas, que são mais complicadas para lidar.

No caso de e-commerce, Shiota lembra que é preciso ter cuidados quando se lida com moedas diferentes. “Nem todo mundo no mundo usa reais, euros ou dólares. É muito importante ver seu site em outras moedas e criar um layout para caber números grandes”, destacou. Alguns símbolos fazem sentidos em alguns lugares, mas não me outros. As estrelas que apontam a qualidade de um hotel possuem classificações diferentes na Europa do resto do mundo, por exemplo. Para resolver a questão, há a classificação internacional que leva estrelas e há círculos para indicar classificações locais. “É uma maneira até de proteger juridicamente o site”, detalhou.

Shiota finalizou lembrando que é preciso respeitar a cultura local de cada país alvo. “Se você acessa o Booking em inglês, verá uma imagem. Mas se você acessa em japonês, tem uma lista. Isso porque descobrimos que japoneses não gostam de procurar lugares. Eles gostam de listas mais do que opiniões de usuários. Nós conseguimos fazer isso porque entendemos que os hábitos das pessoas no Japão são diferentes da Europa”, disse. “É importante lembrar que uma coisa é falar com as pessoas numa língua que elas entendem. Mas quando você fala a língua delas, isso vai para o coração”, finalizou.