No início da Internet, nos anos 1970, a rede era um conjunto descentralizado de computadores. A revolução da computação pessoal, associada à Web, empolgava os defensores da disseminação da informação, por ser um ambiente de grande alcance e ainda descentralizado. O desenvolvimento da Web, no entanto, seguiu com o surgimento de empresas digitais gigantes, responsáveis por centralizar serviços e recursos, e governos que criaram barreiras por meio de vigilância, censura e diferentes regulações.
O cenário, preocupante para quem defende uma Web realmente livre e aberta, será discutido na Conferência Web.br2015, cujo tema principal é “Re-Descentralização da Web”, movimento que busca retomar as origens da rede para garantir seu futuro como uma estrutura a serviço das pessoas.
No âmbito da Web, a descentralização significa redistribuição de funções e poderes. Em vez de depender de um centro que redistribui informações para diversos pontos, os diversos nós da rede teriam o poder de viabilizar a livre comunicação sem a dependência desse centro. E a escolha das próximas plataformas e tecnologias podem ser fundamentais para esse movimento.
De acordo com o gerente do W3C Brasil, Vagner Diniz, os desenvolvedores têm um papel central no processo da re-descentralização, pois são eles que fazem opções pelas tecnologias no desenvolvimento de ambientes Web e definem padrões abertos. São eles também que podem mostrar, na prática, como uma plataforma aberta pode garantir ao usuário uma experiência mais rica de navegação e de integração. “Os governos também são essenciais, uma vez que podem criar regulações de abertura que impactam diretamente o mercado”, afirma.
Dessa forma, participar ativamente das definições de políticas é extremamente importante para quem quer garantir uma internet livre. “O Marco Civil gera um debate importante entre grandes forças do mercado, governo e sociedade civil, assim como será com a Lei de Proteção de Dados Pessoais. É nessas discussões que o governo e a sociedade devem mostrar querem ou não a Web aberta como ela foi criada”.
O criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, é um dos principais críticos da centralização da rede e defende uma Web aberta e verdadeiramente global, sem barreiras criadas por países. Em vídeo, o britânico, que também é diretor do W3C, convoca os usuários a entrarem em uma batalha pelo livre acesso e abertura, destacando a centralização, a falta de neutralidade das redes e as barreiras impostas por diferentes governos como grandes ameaças.
Com uma programação diversificada e palestrantes de peso, a Web.br 2015 promete enriquecer ainda mais os debates sobre o tema da centralização. A expectativa é aumentar em 20% o número de participantes em relação à edição de 2014, que reuniu 500 pessoas.
Exemplos de descentralização na âmbito digital
Não é somente a Web que conta com movimentos de descentralização. O universo das telecomunicações móveis tem uma iniciativa criada para permitir as pessoas se comunicarem sem a dependência de provedores. Um exemplo é o Bitmessage, um substituto do e-mail que faria com que as comunicações saíssem do servidor central para serem distribuídas por meio de outros peers rodando o software da Bitmessage. Métodos de criptografia avançados permitiram que somente o destinatário leia a mensagem, independentemente do local de hospedagem.
Muitos dos projetos de descentralização são inspirados no Bitcoin, moeda virtual baseada em cálculos matemáticos que depende dos diversos nós da rede, agindo coletivamente, para lastrear as operações financeiras realizadas. Um registro público e compartilhado, chamado de “block chain”, registra todas as transações, verificadas pela comunidade.