Entrevista com Fábio Akita o 3 º Keynote Speaker da Web.br!
Fabio Akita é co-fundador da butique de software Codeminer 42. Desde 2008, em conjunto com a Locaweb, organiza a Rubyconf Brasil, conferência que atrai 900 dos melhores programadores do Brasil todos os anos. É evangelista de novas tecnologias e processos, que inclui Ruby, Cloud Computing, Mobile, Agile, Lean, desde 2006. Antes disso passou por 6 anos no mercado corporativo SAP, pela primeira bolha das ponto-coms, diversas das grandes agências de São Paulo e hoje ainda continua a experimentar e aprender coisas novas. Ele deu uma entrevista exclusiva para a Web.br 2014. Confira:
Como surgiu a ideia de criar a Codeminer e quais as dificuldades enfrentadas no início da empresa?
Entre 2010 e 2011 eu era Gerente de Projetos numa outra consultoria tradicional onde ajudei a montar uma nova equipe para novos projetos com novas tecnologias, incluindo Ruby on Rails, desenvolvimento iOS e Android. Subimos de 4 desenvolvedores pra uns 25 com clientes como Editora Abril, Editora Globo e muitas outras. Nesse período quem realmente fazia a roda girar eram eu, e meus dois atuais sócios Daniel Pisano e Rodrigo Abilheira. Nós fazíamos a tríade mais importante de uma consultoria: Delivery, Comercial e Financeiro, e como nos dávamos muito bem tanto no âmbito pessoal quanto no nosso fluxo de trabalho, decidimos que era hora de começarmos do zero nós mesmos, foi quando surgiu a Codeminer no fim de Setembro de 2011.
Qual a importância de ferramentas como rails para a evolução web e qual a influência do uso de rails na expansão do mercado da Codeminer?
Ruby on Rails acabou de completar 10 anos. Nesse período a comunidade saiu de um estágio experimental para uma indústria. Não só produtos conhecidos como Twitter e Groupon usam Rails até hoje como a “Cultura Rails”, que engloba um misto de obsessão por boas práticas Ágeis (ao contrário do “Ágil-para-inglês-ver” que é o que a maioria dos que evangelizam hoje fora do Rails fazem) com empreenderismo – justamente porque diferente de Java, .NET e Python, que sempre tiveram Sun, depois Oracle, Microsoft, Google por trás, Ruby nunca teve nenhuma nave-mãe para dar suporte, então criamos nosso próprio ecossistema. Esse ecossistema deu origem a algumas das empresas de maior influência no landscape atual como Github – que se tornou o maior repositório de código aberto do mundo. Também tecnologias que hoje englobam diversas tecnologias começaram com Ruby como o Cloud Foundry da Go Pivotal (EMC+VMWare+PivotalLabs).
Eu pessoalmente evangelizo Ruby no Brasil desde 2006. Este ano de 2014 marcou meus 8 anos de evangelização que totalizam 1000 posts no meu blog AkitaOnRails.com, mais de 100 palestras por todo o Brasil, 7 conferências Rubyconf Brasil que este ano trouxe quase 1.000 pessoas de todo o país. E a Codeminer despontou como a união entre anos de experiência em consultoria (6 anos de SAP meu, a criação da Spring Wireless de onde veio Daniel, anos de advocacia e auditoria tributária com a PriceWaterhouseCooper do Rodrigo), com esse trajeto de evangelização de Ruby no mercado e nas comunidades.
Como enxerga a cultura de startups no Brasil? O País tem avançado nessa questão ou ainda há um longo caminho a percorrer?
A cultura de startups no Brasil ainda é bem incipiente. E não poderia ser diferente, ainda estamos somente na segunda geração de tech startups. Silicon Valley tem diversas gerações que remete nos anos 60. A estrutura política do Brasil freia o empreendedorismo como um todo, com toda a internacionalmente conhecida “taxa Brasil”, com tributações e impostos em excesso, legislação antiquada como a CLT e tudo mais, além da cultura naturalmente conservadora do Brasileiro, dado nossa história com hiper-inflação até meio dos anos 90, protecionismo da indústria de tecnologia até os anos 90 (que nos deixou muito pra trás do resto do mundo por anos), máquina estatal excessivamente desperdiçando todos os nossos recursos. Qualquer programa de governo que tente atuar no mercado de startups e tecnologia em geral faz um desserviço para todos. A única coisa que um governo deveria fazer é desamarrar os empreendedores e não criar programas de “distribuição de renda a custo perdido”.
Quais as tendências na área de software no Brasil?
Murilo Gun, comediante e empreendedor que palestrou na Rubyconf Brasil este ano disse melhor: “Quem segue tendências já está atrasado. Quem antecipa tendências é que fica bem posicionado”. Tentar prever o futuro é um exercício em futilidade. Alan Kay, um dos nomes mais importantes do nosso mundo de tecnologia (quem primeiro criou o protótipo da visão que se tornaria o iPad, décadas trás) já dizia que “a melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo”. Portanto significa que não me interesso em pensar em “tendências” e não gostaria de deixar algo por escrito para indicar alguma. Se alguém parece que “acertou” o futuro, na verdade é apenas coincidência e não poder de previsão. No geral, independente de tendências, o importante é que quem está nesta área deve estar estudando e testando coisas novas o tempo todo.
Quais conselhos gostaria de compartilhar com quem deseja ser um empreendedor digital?
O conselho é não seguir tendências da moda ou receitas de bolo. Tem muita gente ludibriando muita gente nesse momentos de excitação excessiva. Jogue tudo que você ouve fora, todos os clichês, todos os discursos motivacionais e irrelevantes, e volte aos princípios. Todos que estão tentando “inovar” estão falhando. Toda idéia “nova” na verdade já existe. Estou cansado de receber pessoas apresentando seu “pitch” e basta uma pesquisa de 5 segundos no Google pra achar todos que já implementam essa idéia.
Em vez disso, observe o passado. Quando a Apple lançou o Macintosh em 1984, uma das maiores “inovações” foi a apresentação do mouse pela primeira vez ao público. Só que o mouse foi primeiro inventado em 1946, demonstrado por Douglas Engelbart em 1960, ou seja, levou mais de 20 anos. Quando o iPhone foi lançado em 2007, os diversos componentes – tela sensível toque, processador performático de baixa emissão térmica, bateria que dura o dia todo, foram sendo evoluídos ao longo de décadas até culminar em 2007.
Muitos “empreendedores” estão saindo das faculdades, ignorando a educação e pesquisa, e usando seu absolutamente limitado conhecimento enquanto apenas usuários de Facebook e Twitter e, obviamente, suas idéias não são mais que versão pioradas disso mesmo. Ou seja, muitos estão querendo virar empreendedores como uma opção mais “fácil” do que estudar e arranjar um emprego. E isso é um enorme erro.
Ninguém que nunca trabalhou no mercado de transportes vai conseguir criar disrupção no mercado de logística. Ninguém que nunca realmente trabalhou numa mesa de operações de corretora vai criar qualquer disrupção no mercado financeiro. Ninguém que nunca trabalhou em lojas, área de compras, vai jamais criar disrupção no mercado de varejo. E assim por diante. A única coisa que alguém que teve pouca experiência de trabalho, e pouco tempo de estudo (ou mesmo largando faculdade) vai conseguir é mais uma redezinha social, mais uma comunidade de alguma coisa, e isso é pouco, absolutamente pouco. Imagine quantas centenas de milhares desses tipos já existem e não valem nada.
Esse é o ponto mais crucial do mundo de startups de hoje em dia.