outubro 17, 2017
A Web foi inicialmente – e continua sendo – idealizada como livre e aberta, mas ainda existem alguns desafios para alcançar totalmente esta visão. Por exemplo, temos diversas discussões acerca da privacidade na Web: quais informações pessoais você está cedendo, exatamente? Você consegue ter o controle disso?
Hoje, é difícil saber quais os dados que as grandes empresas têm de você; em algum ponto no cadastro, foi dito o que seria coletado no seu uso e navegação, mas não necessariamente de maneira clara e sintática. Você também não consegue controlar, na prática, o que você está compartilhando: quais informações estão sendo extraídas da sua navegação?
O modelo de negócios de muitas empresas na Web é oferecer algum conteúdo ou experiência gratuita em troca de dados pessoais, que são usados tanto para inteligência (direcionar anúncios e outros tipos de conteúdo) quanto construir perfis anônimos de nós mesmos que pode ter mais informações do que qualquer pessoa sabe sobre você.
Esse modelo de negócios é aceito por muita gente – e por isso cresceu absurdamente e vigora até hoje. Da forma com que os termos de serviços são expostos, com textos longos e confusos, pouca gente sabe o que está acontecendo com suas informações e pouca gente liga! Muitos preferem ceder esses dados do que pagar algum tipo de assinatura, por exemplo.
O problema é que a situação está saindo de controle. O que muitas empresas coletam de você é compartilhado com “parceiros e afiliados” que nem sempre são bem-intencionados. Muitos países, inclusive, veem essa coleta de informações como fundamental para saber o que os cidadãos estão fazendo e querem ter acesso. Com isso, agências de inteligência conseguem espionar e monitorar as pessoas, prender ou censurar jornalistas e até oponentes políticos.
É importante que a situação não saia de controle. Não porque há uma grande conspiração para saber com quem você está conversando agora no WhatsApp, mas porque, em larga escala, a disseminação de dados pessoais fere a mais básica privacidade de cada um. Mesmo que o modelo de negócios de hoje precise ser transformando.
Um dos projetos para mudar esse paradigma é do próprio Tim Berners-Lee, idealizador da Web e que também levantou essas questões pertinentes. Estou falando do Solid, feito em parceria com pesquisadores do MIT para modularizar dados pessoais e deixar mais claro o que o usuário está cedendo a uma empresa.
Do jeito que os termos de serviço funcionam hoje, você aceita ou não aceita. Mas, ao instalar um aplicativo no celular, você pode escolher não dar permissão de acesso à câmera ou ao microfone, por exemplo. É o mesmo princípio: você consegue controlar quais tipos de dados está oferecendo, tudo de uma forma mais clara. Assim, ninguém precisa gastar horas lendo políticas de privacidade com diversos termos jurídicos e confusos para eventualmente entender o que acontece com os próprios dados.
É uma alternativa válida: o Solid, derivado de “social linked data”, dá mais poder de escolha para o usuário e deixa desenvolvedores re-utilizarem os dados que já foram cedidos em outras aplicações. O Solid se compromete a usar o máximo de protocolos e recomendações possíveis do W3C para manter a Web padronizada e interoperável.
Informações mais técnicas podem ser encontradas na página do Solid no GitHub. Conheça mais sobre a Proteção de Dados Pessoais com Flávia Lefevre, Bruno Bioni e Jamila Venturini, palestra que faz parte da programação da conferência Web.br 2017, um dos principais eventos de desenvolvimento Web do Brasil. O evento será realizado dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo.
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